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17 17 julho 2012

Queridos amigos, odiados amigos

Leia o texto de Chaim Samuel Katz, como colunista convidado do jornal O Globo: “Queridos amigos, odiados amigos”.

Queridos amigos, odiados amigos.

 

A amizade é um paradoxo. Obriga o gostar do amigo e permite simultaneamente dele se diferenciar, diferenças que até se expressam sob forma de hostilidade, mas que também constituem o que caracteriza a amizade. Freud estatuiu as mais fortes relações familiares existentes, as que se fazem em torno da autoridade e da função paternas. Cada indivíduo de um grupo familiar conhece seu lugar na estrutura de parentesco, pois, antes mesmo de nascer, já tem ali uma posição definida e escolhas determinadas, ao menos de filho. Amor e ódios têm figuras e objetos determinados para atingir, segundo Freud, de acordo com o modelo parental.

 

O que se conhece como família se funda em relações de aliança, filiação e consanguinidade, e funciona como rede. Tal rede obrigaria os afetos e as ligações, mas ela não depende do nascimento imediato e fisiológico e é permanente, organizando-se em torno das relações familiares. Quer a psicanálise que os afetos advêm unicamente desde tais relações, que se organizam em torno de um evento não-sensível. Mas o “mesmo” Freud, menos considerado pela produção cultural em geral, afirmou que o que caracteriza o humano é que, ao lado de ser sujeito familiar, ele tem individualidade própria, que independe e se opõe, não se submete nem se assujeita às relações preestabelecidas. Homens não são cupins, afirmou, e defendem seus direitos individuais contra a massa. Neste sentido, o indivíduo é mais volúvel do que os assujeitados, e isso o constitui para sempre. A linguagem dita popular recebeu e reelaborou tais formas diferenciadas de se organizar e sentir quando, por exemplo, chama de “tia” a uma mulher mais velha e íntima, ou de “mano” (“brother”, “bró”) a um conhecido próximo. Mas, vejamos bem, os manos e as tias da amizade podem mudar e mudam, de acordo com as relações afetivas, de poder e interesse. Enquanto os irmãos e tias familiares são sempre os mesmos na estrutura de parentesco, por mais que os abandonemos e recusemos. Porém,  ensinam os filósofos, mesmo não é idêntico: claro que devemos considerar novas ordens de famílias, onde um segundo casamento impõe novos manos e tias, e os casamentos homossexuais impõem dois pais masculinos ou duas mães femininas, mas que também “exigem” uma hierarquia de relações e afetos que tende a se perpetuar. Entre amigos, trata-se de “se ver no olhar do outro” (Aristóteles) e se auto-indagar permanentemente. Portanto, as destituições sempre se implicam na amizade, os contatos e comunicações não visam o consenso (apesar do que pensa Habermas) nem uma identificação narcísica. Quando flui a amizade, por mais breve que seja, ela elabora a transformação do amigo. Mas ser amigo é sempre ser outro e, o mais importante, o melhor amigo é também outro de si mesmo, pois a amizade modifica os amigos. Qualquer laço libidinal, por mais distanciado e respeitoso que possa ser, quer possuir e anexar o próximo, anular seu estatuto atual. Mas, simultaneamente, o amigo pretende se criar e transformar a si próprio. Portanto, a amizade suporta ou deve suportar diferenças extremas, as inconstâncias do outro, as surpresas que vêm da alteridade; e não espera que só venham formas de um único amor para unir os amigos. Diferenças e dissensões compõem as amizades indissoluvelmente. Tal é o paradoxo da amizade: querer se apoderar do outro (onde o canibalismo é uma forma extremada) sem destruí-lo e simultaneamente acolher suas peculiaridades. Penso que são tais características que levaram o grande Montaigne a dizer: “Oh, meus amigos, não há amigos!” Tal opinião de opostos, dupla e contraditória, é realizável? Ela é difícil e dolorosa, mas evita a submissão ao soberano, ao pai ou ao sistema, que querem nomear, regular e disciplinar “tudo”. E obriga os amigos a se transformarem e simultaneamente cambiar os outros, a amizade implicando em ação e negociação, mas também na solidão. Quanto “ão”! Ainda mais que, como dizemos os psicanalistas, todos têm direito ao segredo, mas só amigos o toleram. Você aí, não conte tudo o que sente…

 

*Chaim Samuel Katz, psicanalista e escritor, participou do workshop da minissérie “Queridos amigos”, que estreia amanhã na Globo.

 

Baixe o texto: Texto Chaim Katz

 

 

Freud e o Surrealismo Formação em Psicanálise – Atividades do 2º semestre 2012

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